segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Wabi-sabi

"As palavras wabi e sabi não são de fácil tradução. Wabi pode significar simplicidade rústica, frescor e quietude ou elegância discreta. Pode também se referir a acidentes e anomalias ocorridos no processo de construção que conferem singularidade ao objeto. Sabi é a beleza ou serenidade que vem com o tempo, quando a vida do objeto e sua impermanência são evidenciados pelo desgaste ou por qualquer conserto visível.

Wabi-sabi é igualmente difícil de definir em palavras. O termo se refere a uma abrangente estética japonesa baseada na aceitação da transitoriedade. “Wabi-sabi cultiva tudo que é autêntico ao reconhecer três realidades simples: nada dura, nada é completo: nada é perfeito”, diz uma de suas definições.

Em termos mais coloquiais, wabi-sabi é o pacote completo; admite o defeito; revela a história, o desgaste e o sofrimento. Quando você pendura uma foto no seu banheiro e o vapor faz suas pontas curvarem, isso é wabi-sabi. Quando a pintura da porta descasca ou uma aranha faz uma teia no canto da sua garagem ou a xícara de chá de sua vó ganha rachaduras que parecem fios de cabelo depois de três gerações de uso, isso é wabi-sabi.

Wabi-sabi é otimista. É ver beleza onde pessoas menos criativas enxergam defeitos. É também maleável. Quando algumas gotas de azeite mancham seu vestido limpinho no almoço, não se trata de um descuido, mas de uma magnífica imperfeição. Quando um colega de classe pisa sem querer no seu tênis branco reluzente, deixando uma mancha cinzenta, isso é o tempo que se acelera. E quando um garoto desajeitado arranca um naco de seu novo e adorado skate, e você tem 13 anos e ainda é inocente, isso é uma preparação para você cair no mundo real, em que as coisas inevitavelmente se desintegram."

*Jamie Brisick é ex-surfista profissional, escritor e colaborador do The New York Times, The Guardian e Details. Mora em Nova York.

(Reportagem Revista Trip - 08/03/2010)

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